o que fazer quando sabemos o futuro?
o que um k-drama e um filme hollywood tem a dizer sobre os mistérios do Destino
Comecei a escrever esse texto no início desse ano, mas aí a vida aconteceu (perdi o ânimo) e ele ficou jogado nos porões do substack por todos esses meses. Mas aqui estamos nós, em junho, e tudo o que eu escrevi continua fazendo muito sentido. Então, vamos lá…
…sobre saber usar uma previsão
Em janeiro eu tava assistindo a um k-drama (novela coreana) chamado Marry My Husband, cuja a história é a seguinte: uma mulher de 40 anos está com câncer terminal, prestes a bater as botas, e é nesse contexto pavoroso que ela descobre estar sendo chifrada pelo marido com a melhor amiga! Pra piorar, essa descoberta se dá em meio a um flagra e o marido mata ela. Porém, algo doido acontece e ela descobre que voltou DEZ ANOS no passado, antes de se casar com o desquerido e percebe que recebeu uma segunda chance.
Bem novelão, né? kkk pois é
Normalmente passo longe de história com doença, maaaas eu tinha acabado de assistir um outro kdrama com um enredo parecido de volta no tempo pós morte e resolvi dar uma chance. O que foi ótimo, porque assistindo a um episódio em específico, eu fiz uns paralelos com oráculo e previsões que fizeram pensar horrores.
A protagonista da história, Ji Won, trabalha numa empresa onde o superior imediato dela é um ESCROTO, bem lixão mesmo e que roubou o projeto que ela criou colocando o nome de tudo mundo, menos o dela. A moça claro ficou puta da vida, o chefe só aproveitando e querendo colocar também o nome do chefão deles até que ela lembra de uma coisa...atenção ao pulo do gato (contém spoilers).
Na história ela voltou pra 2013 e em breve o chefão vai se envolver num escândalo em público, flagram ele sendo escroto com o tripulante de um avião e ele acaba demitido. O que a nossa querida faz? Usa isso ao seu favor. Ela sabia que isso ia acontecer e aproveitou pra sugerir que sim, coloquem mesmo o nome desse chefão no projeto!! Ele tem uma BOA REPUTAÇÃO, vai CONQUISTAR A CONFIANÇA do público. No dia D ela ligou pro chefão, contando que o projeto foi roubado e ela ia fazer uma denúncia, deixando o homem com raiva e admitindo várias falcatruas - tudo enquando era filmado.
Conclusão: o desfecho foi como tinha acontecido, com o chefão sendo demitido, mas dessa vez com o bônus de limpar a barra dela e recuperar seu projeto!
Foi aí que me deu o CLIQUE.
A Ji Won poderia ter deixado tudo se desenrolar conforme iria acontecer de forma “padrão”, digamos assim: o chefão seria demitido por viralizar sendo um lixo com o funcionário e é isto, nada a ver com ela. Mas ela soube usar esse acontecimento ao seu favor modificando ele de uma forma sutil, mas mantendo a essência (a escrotidão do chefão). Foi genial e isso me fez pensar muito sobre o poder que é receber previsões do que pode rolar.
É claro que não temos tantos detalhes assim, mas conseguimos saber a natureza do evento e quando ele deve ocorrer, aproximadamente. Em todos os oráculos, podemos ver as tendências de um mês, um semestre, um ano. Conseguimos saber se aquela proposta vale a pena, se aquele plano vai rolar, se alguém tá mentindo kkk
Já parou pra pensar no PODER disso??
Eu trabalho com o oráculo e quando você dá essas respostas todo dia acaba quase se acostumando. Quase.
Eu gosto muito desses momentos de reencanto.
sobre aceitar ou não uma previsão
Depois de ver esse episódio eu entrei numa cacofonia mental, já fazendo toda a reflexão acima e em algum momento meu raciocínio acabou chegando nele. Um dos meus filmes favoritos.
A Chegada é uma ficção científica que a princípio parece batida, a chegada de uma nave esquisitona nos EUA e o governo monta uma equipe pra desvendar o mistério. Os ets são enormes e feios, e se comunicam por meio de manchas que parecem Testes de Rorscharch. Na equipe tem o militar insuportável, o cientista certinho e a Louise, especialista em linguística - por isso ela é chamada. Mas aí meus amores, a história vai tomando uns rumos doidos e eu vou ter que dar spoiler, não tem jeito. Se não quiser saber o mistério do filme não continue:
À medida em que a Louise foi aprendendo a língua alien, ela começou a ter vislumbres do próprio futuro. Porque a língua deles era uma espécie de oráculo!! Ela tinha visões de uma criança, de uns babados internacionais e ficava tipo (??) até que ela entendeu. O tempo não é linear.
Nisso, a Louise descobriu que sim, ela teria uma filha. Mas ela iria morrer ainda jovem. No final, ela decide trilhar o caminho que a levaria a ser mãe, porque ela queria viver aquilo, apesar da dor.
(a partir daqui sem spoilers)
Na época que eu assisti eu nem sonhava em ser oraculista, mas isso me pegou forte. Ela soube de algo ruim que ia acontecer e mesmo asim escolheu seguir em frente!! Todo o lance da linguagem escrita proporcionar esse conhecimento do passado e do futuro simultâneos!! Nossa, uma obra de arte.
o que vai acontecer já está acontecendo
Lembrar desse filme me fez pensar que a maioria de nós morre de medo de receber uma previsão ruim (que vai morrer, perder alguém ou perder dinheiro), enquanto a gata lá sabendo de todos os detalhes da desgraça e ESCOLHENDO ela mesmo assim, com uma convicção…uau. Não to dizendo que não devemos sentir preocupação e etc, mas que todo esse rolê tem um certo fundamento no estoicismo, uma escola filosófica que influenciou muito os princípios teóricos da astrologia.
Ela foi bem estóica ao escolher seguir seu destino, tal qual a metáfora do cachorro que tá amarrado na carroça. Se ele ficar se debatendo e tentado fugir só vai sofrer e se machucar. Ao aceitar sua condição, ele acompanha o ritmo da carroça e consegue até apreciar a jornada. Às vezes o que precisamos é dessa postura tranquila diante dos babados que não podemos controlar.
e aí, aceitar ou usar ao nosso favor?
Bom, por esses dois exemplos temos duas posturas diferentes diante de previsões do futuro e sinceramente, acho que a resposta é equilibrar as duas. Eu parto do princípio de que o Destino não é aquela coisa IMUTÁVEL, nossas ações e decisões tem reflexos na teia da vida. E alguns desses reflexos podem ser justamente a alteração do acontecimento. Em Marry My Husband, a Ji Won descobre que as coisas que aconteceram com ela precisam acontecer COM ALGUÉM. Não necessariamente ela. E é por isso o nome do drama: ela vai juntar o casal que sacaneou ela e se livrar daquele destino. Em A Chegada, a Louise descobre o que vai acontecer com ela e decide seguir o fluxo, sem tentar mudar nada. Ela assume essa jornada, disposta a apreciar cada segundo antes que acabe.
Não temos como saber exatamente o que é passível de mudança e o que não pode ser alterado, pois isso faz parte do Mistério (exceto pela morte, ela é a única certeza pra todos). Mas se os oráculos existem e funcionam, é porque nos é permitido acessar o que pode vir a acontecer. E saber disso te dá a oportunidade de decidir COMO viver essa jornada.
No fim, não é tanto sobre alterar ou aceitar. Mas sobre viver os acontecimentos com clareza.
Já pensou nisso?
Isso não é uma brisa, é uma VENTANIA do Bom Espírito!!! Primeiro, que amo dorama, depois, que amo milhões de vezes mais o Destino, e amei essa ideia de cumprir a sentença, porque sou dessas. Saiu torre? Pois me dá esse martelo que ajudo a demolir (mesmo que em cima de mim).
Vou assistir suas referências e matutar esse texto. Amei!
Não sei dizer se a atitude da personagem de A Chegada foi estoica tanto assim. Acho que tinha mais uma coisa a ver com ela querer que a filha exista, até pq ela já existe, ela já ama a filha, pq ela já a conhece, pq ela já tem memória da filha. Imagina desejar que alguém não exista só pq não vai estar lá pra sempre... Acho que a ideia do filme é que a vida não vale a pena só qnd vc fica velha, o valor da vida nessa história não é quantificada em anos. Acho que tb aponta um problema na ideia de que a vida só é completa qnd vc chega a idade de produção e cumpre ela. Pq morrer velha seria tudo bem e morrer jovem não? Pq velho já é descartável? Quando é a idade certa pra morrer?